O autor Daisaku Ikeda, em um dos trechos adaptados do livro Sabedoria,1 aborda importantes reflexões sobre o envelhecimento e a qualidade de vida.
Um ditado diz: “Para o tolo, o envelhecimento é um inverno amargo; para o sábio, uma estação dourada”. Tudo depende da nossa atitude, de como lidamos com a vida. Encaramos a velhice como um período de declínio que termina na morte ou um período em que temos a oportunidade de atingir nossos objetivos e dar à nossa vida um término gratificante e de contentamento? Será a velhice um caminho descendente que leva ao esquecimento ou um caminho ascendente que nos conduz a picos mais altos? A mesma velhice — em termos de riqueza e realização — que alguém pode experimentar será dramaticamente diferente dependendo de como é encarada.
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Vamos fazer da terceira idade, a terceira idade da juventude. Juventude não é algo que desbota com o tempo. Nossa atitude com relação à vida nos faz jovens. Contanto que mantenhamos uma atitude positiva e o espírito de desafio, continuaremos a ganhar profundidade e riqueza e nossa existência adquirirá o brilho reluzente do ouro ou da prata polida.
Creio que possamos afirmar que o mais importante desafio de uma pessoa na terceira idade é que ela possa se manter fiel a si própria até o último momento e mostrar isso aos que estão ao redor.
As lembranças e recordações que as pessoas têm de alguém que já faleceu, o exemplo que deixou, podem se tornar grande fonte de encorajamento e força para os que ficam.
Qual o legado que deixaremos para os outros? Qual a contribuição que daremos em nossa terceira idade? Despidos de riqueza, fama, posição social, a única coisa que resta depois que alguém morre é o exemplo de como viveu como ser humano.
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Nichiren Daishonin afirma: “Se acender uma lamparina para outra pessoa, iluminará também o próprio caminho”.² Em uma sociedade que envelhece, esse espírito de contribuir para o bem-estar dos demais é muito importante. Essencialmente, significa iluminar o próprio caminho.
O Budismo Nichiren ensina que, como temos uma dívida de gratidão com todos os seres vivos, devemos orar para que eles alcancem a iluminação.³
Valorizar as pessoas e apreciar o relacionamento humano — esses são requisitos essenciais para criar uma sociedade em que as pessoas desfrutem, verdadeiramente, uma vida longa e realizada.
O que importa é quanto podemos melhorar nossa qualidade de vida durante o tempo em que estamos nesta terra, independentemente de sua duração. Há uma diferença entre simplesmente ter uma vida longa e ter uma vida rica e gratificante. Ela pode, por exemplo, ser realizada e produtiva, mesmo que seja curta em relação à medida do tempo.
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Em essência, as pessoas precisam aprender a valorizar e respeitar os idosos, mesmo aqueles com Alzheimer ou outras formas de declínio cognitivo, pois são veneráveis veteranos e pioneiros que prestaram importantes contribuições à sociedade. Com o rápido envelhecimento da sociedade, todos nós seremos convocados para cuidar dos idosos, de uma forma ou de outra.
Uma sociedade grisalha terá de revisar seus valores, colocando a colaboração acima da competição, a qualidade acima da eficiência e a riqueza espiritual acima da riqueza material. Devemos perguntar não o que os outros podem fazer por nós, mas o que nós podemos fazer pelos outros. Teremos de buscar um meio de contribuir, ao mesmo tempo que nos esforçamos para nos manter em forma e saudáveis. Essa é a vida de criação de valor.
Notas:
1. IKEDA, Daisaku. Sabedoria. Tradução: Leila Yoko Shimabukuro Otani. 1 ed. São Paulo: Editora Brasil Seikyo, 2020, p. 17-20.
2. The Writtings of Nichiren Daishonin (Os Escritos de Nichiren Daishonin). Tóquio: Soka Gakkai, v. 2, p. 1060.
3. Ibidem, p. 637.