Discurso do presidente Ikeda extraído e adaptado de Explanação sobre Abertura dos Olhos, publicado em português em novembro de 2012.
Ele [Nichiren Daishonin] declara que as grandes perseguições que enfrentou correspondem ao princípio de que os bodisatvas adotam voluntariamente o carma apropriado para passar por determinados sofrimentos com o objetivo de conduzir os seres humanos à iluminação. Assim como os bodisatvas consideram que adotar sofrimentos para salvar os seres vivos é uma alegria, Daishonin diz que ele também vê a dor e o sofrimento decorrentes das perseguições como um motivo de júbilo, pois estes lhe possibilitarão evitar os maus caminhos em existências futuras.
O princípio de “assumir voluntariamente o carma apropriado” é a conclusão lógica do conceito budista da transformação do carma. Em outras palavras, representa um modo de vida em que convertemos o carma em missão.
O modo de vida de um budista é descobrir um significado em todas as coisas. Nada é em vão ou sem sentido. Seja qual for o carma de uma pessoa, sempre há um profundo significado para a sua existência.
Isso não é uma questão de simples ponto de vista. A mudança do mundo começa com a mudança fundamental de nossa mentalidade. Este é um princípio-chave dentro do budismo. A poderosa determinação de converter até o carma adverso em missão pode transformar radicalmente o mundo real.
Quando mudamos nosso estado de vida interior, podemos transformar qualquer sofrimento ou adversidade em um motivo de alegria, e considerá-lo um meio para fortalecer e desenvolver a nossa vida.
Somente as lutas e os desafios nos permitem desenvolver a força interior e edificar uma existência realmente criativa. Quando mantemos uma fé inabalável no ensinamento correto, haja o que houver, sejam quais forem os obstáculos, podemos entrar na órbita da verdadeira felicidade por toda a eternidade. Atingir o estado de buda nesta existência significa assegurar essa órbita em nossa vida diária, durante nossa presente existência.
O praticante do ensinamento correto que se dedica incessantemente à propagação da Lei pode ser visto como o epítome do supremo humanismo, que Nichiren Daishonin revelou com base no Sutra do Lótus.
Em Abertura dos Olhos, ele [Daishonin] declara: “Quando o ferro é exposto às chamas, as impurezas nele contidas só vêm à tona quando forjado vigorosamente. As falhas somente se tornarão visíveis quando o ferro for submetido ao processo de aquecimento diversas vezes. Para obter óleo de cânhamo em quantidade suficiente, é necessário prensar as sementes com muita força”.
Um vida que é forjada pelos esforços em proteger a Lei elimina as impurezas do mau carma da calúnia e perdura eternamente pelas três existências — passado, presente e futuro. Desde o tempo sem início, temos repetido o ciclo de nascimento e morte. Nesta existência, entretanto, tivemos a boa sorte de encontrar o Budismo Nichiren. Por praticarmos o ensinamento correto, por denunciarmos a calúnia à Lei e nos fortalecermos interiormente, podemos transformar nosso carma e estabelecer o estado eterno e indestrutível de buda em nossa vida. Eis o significado de atingir o estado de buda nesta existência.
Essa prática pura e compromissada do Budismo de Nichiren Daishonin muda totalmente o significado das dificuldades em nossa vida. Não mais enxergamos os desafios e adversidades como algo negativo a ser evitado, mas como algo positivo que, quando superado, nos aproximamos um passo do estado de buda.
Naturalmente, para aqueles que se encontram em meio a árduos desafios pode não ser fácil reconhecer isso. Ninguém gosta de, ou deseja, passar por dificuldades. É da natureza humana evitá-las. Contudo, se compreendermos o supremo ensinamento transformador da Lei Mística, veremos que nossas dificuldades surgem em decorrência de nossos esforços para combater o mal, e teremos a convicção de que atingiremos a suprema condição de vida do Buda. Se tivermos essa atitude positiva, poderemos viver com a força e a capacidade de enfrentar e resistir a quaisquer dificuldades.
A derrota para um budista não está em não encontrar dificuldades, mas em não desafiá-las. As dificuldades somente tornam-se nosso carma ou destino se fugirmos delas sem uma luta. Enquanto vivermos, devemos lutar. Precisamos viver e lutar com tenacidade até o fim. A filosofia de Nichiren Daishonin da transformação do carma, que ensina esta questão fundamental da vida, é também um ensinamento revolucionário, que representa um contraste radical da forma como outras escolas budistas tendem a considerar as dificuldades.
Praticar o Budismo Nichiren é viver com a convicção inabalável de que os momentos de maior dificuldade são para fazer nossa revolução humana e de que, por pior que seja a situação, somos capazes de transformá-la em algo positivo infalivelmente.
Fonte: Brasil Seikyo, ed. 2.287, 15 ago. 2015, p. B2