Discurso do presidente Ikeda adaptado do diálogo A Sabedoria do Sutra do Lótus, v. VI, publicado em japonês em agosto de 2000.
O propósito desta existência é transformar a nós mesmos. Por isso, precisamos dar o melhor de nós, fazendo com que os que estão ao nosso redor atuem como bons amigos ou boas influências e analisar tudo o que fazemos como parte de nossa prática budista.
Certa vez, uma pessoa fez a seguinte pergunta ao presidente Toda: “As coisas não estão indo bem entre mim e meu parceiro. Devo persistir? Ou será que devo pedir o divórcio?”.
Ele respondeu: “Não é meu papel apontar o que pode fazer em relação a seu casamento. Não posso lhe dizer que deve se divorciar nem que não deve. A única coisa que posso afirmar é que, a não ser que rompa o carma que faz com que tenha um relacionamento problemático, mesmo que se separe estará fadada a experimentar o mesmo tipo de sofrimento no futuro. E já que terá de passar pelo mesmo problema de qualquer forma, então, talvez, não seja tarde demais para fazer algo em relação ao seu casamento atual”.
O ideal é que os pais de uma criança se deem bem. Mas se isso não acontecer e eles acabarem se divorciando, não significa necessariamente que a criança acabará mal. Há muitos casos em que as crianças se desenvolvem como pessoas excelentes e honestas precisamente por causa de dificuldades como essas.
Em suma, você deve tomar sua própria decisão com base em uma profunda reflexão sobre a sua vida, considerando quem você é e esforçando-se incansavelmente para realizar a sua revolução humana no lugar onde se encontra agora. Desde que tenha uma forte fé, no final, certamente, se tornará feliz.
Se as pessoas de fato se divorciarem, então, em vez de ficar remoendo o passado, seria maravilhoso se pudessem encarar a experiência como uma valiosa lição e lutar pelo kosen-rufu ainda com mais afinco do que antes. E espero que as pessoas ao seu redor possam prestar-lhes caloroso apoio. Também espero que as crianças cuja família conta apenas com um dos pais não se sintam sozinhas, mas que, exatamente por isso, abram o coração e expandam ainda mais seu círculo de amizade.
Dizem que a maioria dos casamentos não é 100% bem-sucedido. Alguns vão além, chegando a sugerir que 99% dos casamentos são malsucedidos! Na realidade, muitas famílias que aparentam ter tudo a seu favor, na verdade, têm muitos problemas. O ensaísta francês Montaigne disse: “Não há menos tormento no governo de uma família do que no de um Estado inteiro”.
Quando um casal possui condições de vida semelhantes, é natural que ocasionalmente se desentenda. Porém, se pudesse recuar um passo e olhar para seu parceiro(a) com a benevolência que teria pelo seu filho, por exemplo, seria capaz de ser mais complacente e compreensivo, evitando confrontos desnecessários. Seria muito melhor se não tomasse a rabugice do seu parceiro(a) como algo pessoal, tivesse um coração amplo o suficiente para interpretar o fato como uma expressão de sua vitalidade natural, um sinal de que está vivo e bem. Se conquistar esse vasto estado de vida, então, até as reclamações do(a) parceiro(a) soarão como o doce canto dos pássaros.
Em todo caso, o mais importante é ter amor e benevolência um pelo outro. Além disso, o essencial é recitar daimoku juntos, almejando o objetivo mais grandioso de todos, a verdadeira felicidade.
A felicidade é construída com paciência e perseverança. Existem muitas pessoas que sonham com a felicidade sem estarem dispostas a efetuar tais esforços. Contudo, isso não passa de um sonho — um conto de fadas, uma visão simplista e infantil da vida. Essa ilusão acaba com muitos casamentos.
Empenhar esforços concretos para construir uma vida juntos, tendo paciência e perseverança para avançar juntos — essas são as bases sobre as quais o verdadeiro amor se desenvolve. Amor de verdade significa querer compartilhar a vida com a outra pessoa para sempre. Casamento de verdade é aquele no qual depois de estar casado há 25 anos a pessoa sente um amor ainda mais profundo do que no primeiro encontro. O amor verdadeiro é algo que se aprofunda. É um amor que não está no nível da simples atração ou preferência.
Para um casal, também é fundamental agradecer e elogiar um ao outro com frequência. Pode ser por qualquer coisa — o que importa somente é elogiar e agradecer. Ficar apontando as falhas da outra pessoa não leva a nada. É bobagem.
Os casais deveriam se esforçar para tornar o lar um lugar radiante e feliz. Devem decidir: “Enquanto eu estiver por aqui, sempre farei com que tudo seja alegre e radiante”. Se você próprio brilhar como o sol, não haverá escuridão onde quer que vá no mundo. Da mesma forma, se no lar houver uma pessoa que brilhe como o sol, a família toda será iluminada.
Fonte: BS, ed. 2.307, 23 jan. 2016, p. B3